sexta-feira, 24 de julho de 2015

3D sentimental

O livro em cima da mesa
A mosca em cima do livro
O arroz em cima do prato
Por sobre o almoço o vício

A tecla em cima do micro
Em cima da tecla o dedo
A angústia por trás do olho
Em frente do olho o vídeo.

Por baixo do teto o calor
O ser embaixo do teto
Por dentro do ser a dor
Por fora da dor o riso.

JCT, 24/07/2015.

segunda-feira, 3 de março de 2014

Amar até quando?

Até o amanhecer, depois da longa insônia?
Amar até que o ar acabe e as folhas sequem?
Até amanhã, até que chegue a próxima manhã?
Amar até esvair-se toda a energia, à exaustão?
Amar, sim, com toda a pompa e toda a ostentação.
Seguir amando até que a morte nos separe, até que o fim
Seja enfim um novo início para amar de novo então.

Até quando amar, satisfazer-se de utopias?
Até que o sol esquente a terra fria?
Até que a lua cheia afaste a ventania?
Amar até que o rosto enrugue, e o corpo sinta o fim da vida?
Amar mesmo que as formas já não sejam finas?
Amar ainda que a razão pereça ante a loucura?!

Amar, sim, até que o fim do mundo se anuncie
Amar a sós até que estoure um novo big-bang
Amar quietos no infinito até que Deus ressurja
A semear sementes de amor cristão, ocidental.

Mas por enquanto, amemos, de um amor insano
Morramos de amor puro enquanto há vida.
Viver de amor até que a morte nos separe
Eis o que de fato importa nesta curta vida.

Belém, 03 de março de 2014.

JC Torres.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

REFINÍCIO

Hoje vou rezar com a minha luz acesa
Minha oração mais laica e sincera
Vou dormir com algodão na consciência
Vou misturar realidades e quimeras

Vou recompor-me num jardim de espinhos
Chegar a margem arfando em correntezas
Fazer de folhas secas meu florido sítio
Respirar fumaça isento de impurezas

Hoje eu vou desafiar a fé dos desconvictos
Plantar sementes férteis de incerteza
Unir meus cacos vãos num vaso grego

Só para mostrar a mim mesmo que não há
Certeza eterna nem eternidade infinda
Só pra ver, de perto, no final, o início.

Belém, 02 de dezembro de 2013.

sábado, 6 de julho de 2013

Meus óculos de poesia

Vou colocar meus óculos de poesia
Pra enxergar bem longe e ver melhor
Achar amor onde olhos a nu não veem,
Felicidade, onde se vê apenas apatia

Com esse óculos, eu posso ser feliz
Posso voar bem longe, sem sair de casa
Posso amar e ser amado numa boa
E ser realmente quem eu sempre quis

Se eu botá-los posso ver-te novamente
De uma forma como eu nunca vi
Já sem eles, tudo perde a graça
Com eles, a existência ganha um fim.

Belém (PA), 06 de julho de 2013.
John Charles Torres.

Hermético

De mim, não esperes rimas fáceis,
Nem cadências óbvias, decoráveis
Não quero versos tão metrificados
Nem palavras pra lá de degastadas

Espera, sim, sucessões de enigmas
Espera o caos semântico e fonético
Que apenas seja visto pelo coração
E que somente a emoção o interprete.

Belém (PA), 06 de julho de 2013

John Charles Torres.

terça-feira, 19 de março de 2013

....

Seria muita covardia minha querer conquistar-te com palavras. Pois palavras o vento pode levar. Prefiro deixar que sintas meus sentimentos, que entendas minhas sensações. Prefiro te dar a palavra muda. Prefiro soletrar-te meu silêncio, recitar-te minhas reticências, olhar-te silábico. É assim que eu te quero: linguisticamente pura. Não contaminada pela emoção verbal. Te quero transparente, como a gota da chuva. Quero que me vejas no escuro e escutes meu silêncio, e saibas que pode ser para sempre - uma eternidade tão intensa, que faz sem sentido as melhores palavras.

Quis

Quis me alimentar de ti
Mas já estavas longe, ínfima
Quis pegar-te flor, te abrir
Mas tu já eras pétala, cinza.

Belém, 15 de agosto de 2013.